VERSIÓN PORTUGUÉS Jogos Florais História essência e vida

FLÁVIO ROBERTO STEFANI

1. HISTÓRIA


ORIGEM:

Diversos autores já se ocuparam deste assunto: Aparício Fernandes, Luiz Otávio, Eno Teodoro Wanke, Otávio Venturelli, Armando de Carvalho Barros, entre eles. Definitivamente, não há unanimidade. De minha parte, tendo tido contato com o evento há quase quatro décadas, fico com o Aparício e o Luiz Otávio, mais coerentes, vez que, na Idade Média, muitos pensadores se inspiravam nos antigos, vale dizer Roma e Grécia. Em ambas, é preciso ressaltar, tanto a poesia como a música, foram muito valorizadas pelo povo e, especialmente, por seus mandantes (imperadores, reis, generais, governadores), pois esta história de “pão e circo” é tão antiga quanto o mundo.

Assim, não tenho receio algum em afirmar que as verdadeiras raízes dos JOGOS FLORAIS Roma Antiga, onde se celebrava uma grande festa popular em homenagem a Flora – deusa das flores e dos jardins, amada de Zéfiro e mãe da Primavera.Flora é uma das mais antigas divindades itálicas. Inicialmente venerada como deusa das sementes e dos frutos, transformou-se na deusa que presidia tudo aquilo que florescia, por isso mesmo a deusa das flores e dos jardins, como dito acima. Ovídio, identificando Flora à ninfa grega Clóris, relata-nos o seu casamento com Zéfiro, o deus da brisa ligeira. Os romanos instituíram, em sua honra, jogos anuais, que eram celebrados na primavera. Na época dos Imperadores, esses eventos foram se transformando, aos poucos, em competições poéticas, promovidos por assembléias literárias, cujos vencedores recebiam aclamação pública e eram coroados de rosas, de mirto e de loureiro. O tempo passou.

Na Europa Medieval, o romantismo da época propiciou o aparecimento da poesia trovadoresca, baseada em estruturas poéticas diferentes das do moderno troveirismo. O trovador mais antigo que se conhece, Guilherme de Poitier, Duque de Aquitânia, viveu de poesia trovadoresca teve o seu período áureo no século XII, entre 1140 e 1250, após o que foi decaindo de ano para ano. Como sempre, em todos os lugares, esse fato começou a ser percebido, especialmente nos meios literários. Até que, em 1323, em Tolousse, na França, um grupo composto de sete poetas organizou e fundou a Academia dos Jogos Florais que, de saída, promoveu um concurso poético, oferecendo ao vencedor uma violeta de ouro. Inúmeros poetas participaram desse certame, que teve sua festa de encerramento no dia 1 de maio de 1324, e cujo vencedor foi o trovador Arnald Vidal, de Castelaudary, obtendo o 1 lugar com uma poesia sobre a Virgem Maria. Notando que o evento obtivera o sucesso desejado, e sobretudo para preservá-lo, foi criado o “Consistório dos Sete Mantenedores”, que se compunha dos próprios poetas fundadores da Academia, pelo menos inicialmente. O evento passou o ser realizado anualmente, premiando sempre os poetas vencedores com jóias de ouro e prata, em formato de diferentes flores: violetas, rosas, cravos, etc. Dizem alguns compêndios que originou-se daí a denominação JOGOS FLORAIS, mas, como indaga Aparício Fernandes (A Trova no Brasil) “é possível que os poetas tolossanos tenham também levado em conta a Deusa Flora e a tradição dos antigos romanos”. Parece mais sensata essa idéia.

Anos mais tarde, em 1363, D. João I, de Aragão, criou em Barcelona, na Espanha, o Consistório da Gaia Ciência – ciência do belo, representado em forma poética, promovendo também Jogos Florais, e elegendo anualmente uma rainha. Pode estar aí o surgimento da Musa dos Jogos Florais, hoje figura obrigatória em todos os eventos promovidos no Brasil, e que podem desempenhar um papel relevante em termos de graça, beleza, relações públicas, simpatia e tudo mais.Figuram entre os vitoriosos dos Jogos Florais da Idade Média alguns dos maiores vultos da literatura francesa: Volteire, Chateaubriand, Victor Hugo, Lamartine, Copée, entre outros. O encerramento do evento era abrilhantado, às vezes, com a presença do próprio rei.

Diversos países assimilaram os JOGOS FLORAIS. Portugal foi um deles, talvez o principal. A Emissora Nacional, de Lisboa, os promovia todos os anos, elegendo, em cada edição, o príncipe dos poetas portugueses. Também eram promovidos em Coimbra, Porto, Figueira de Foz, Almada, Angra do Heroísmo, Quelimande, etc. E assim também nas províncias da África, em cidades de Angola, tais como Benguela, Cubal, Nova Lisboa, Ganda, Armação de Pera, Lobito e outras. Acredita-se que a trova tenha sido introduzida nos Jogos Florais justamente em Portugal, onde havia muitos poetas cultores desse gênero poético. Ainda hoje se realizam diversos Jogos Florais em Portugal, promovidos por emissoras de rádio, jornais e entidades culturais. O “Jornal de Notícias”, do Porto, realiza, anualmente, desde 1920, um Concurso de Quadras de São João, recebendo milhares de “quadras”, pois é assim que é conhecida a trova em Portugal, chegando a receber quinze mil num ano. Assim também na Itália e até no Chile, onde se tem notícia de que foram promovidos Jogos Florais no início do Século XX.

Na cidade de Santos, nos anos de 1914, 1915 e 1916, foram promovidos Jogos Florais, pelo Liceu Feminino Santista, tendo por base gêneros poéticos que não a trova, sabendo-se pouco ou quase nada à respeito, pois não há registro escrito consistente para um estudo mais apurado. O que se sabe, sim, é que não logrando êxito, a idéia foi abandonada.

O marco, na verdade, dos JOGOS FLORAIS no Brasil é 1958. Nesse ano,LUIZ OTÁVIO e J. G. DE ARAÚJO JORGE foram vitoriosos num concurso de trovas promovido pela Casa da Bahia, com sede no Rio de Janeiro, sob orientação do poeta e trovador Jayme de Faria Goes, cujo prêmio era uma viagem a Salvador, com todas as despesas pagas. De volta ao Rio, onde residiam, trocaram idéias durante a longa viagem de navio, sugerindo a introdução dos JOGOS FLORAIS no Brasil, a exemplo do que já acontecera em outros países da Europa e África, estudiosos que eram da matéria. Desde logo, uma vez que eram cultores e apaixonados por trova (Luiz Otávio, dois anos antes – 1956 – havia lançado a coletânea “Meus irmãos, os trovadores”, considerada até hoje o marco do movimento trovadoresco brasileiro, reunindo 3.000 trovas e comentários sobre as mesmas e seus autores), estabeleceram que os JOGOS FLORAIS no Brasil teriam como base concursos de trovas. Como ambos iam seguidamente a Nova Friburgo, por terem sítios no município, conhecendo pessoalmente o Prefeito e os poetas da cidade, decidiram levar a idéia para aquela cidade, que reunia ainda muitos outros atrativos: rede hoteleira excelente, clima ótimo, restaurantes e infra estrutura turística. A idéia foi, de pronto, aceita pelo Prefeito, Sr. Amancio Azevedo, seguida pelos proprietários de restaurantes, hotéis, o comércio, a imprensa, tal como acontece agora, quarenta e oito anos depois, às vezes em maior ou menor intensidade, embora tenham trocado prefeitos, vereadores, partidos, donos de restaurantes e hotéis, etc etc. Os JOGOS FLORAIS estão tão arraigados em Nova que a cidade hoje, se fosse cancelado o evento, não seria a mesma, faltaria sempre "alguma coisa"... Em Câmara de Vereadores da cidade aprovou lei denominando ”Nova Friburgo, a cidade das Trovas”.

Foram, então, em 1960, realizados os I JOGOS FLORAIS DE NOVA FRIBURGO, sob os auspícios da Academia Friburguense de Letras, uma vez que ainda não existia a União Brasileira de Trovadores, fundada em 1966, quando assumiu de vez o evento. O tema do concurso de trovas foi AMOR, e o 1 colocado foi o trovador mineiro, de Belo Horizonte, RODRIGUES CRESPO. A seguir as dez trovas vitoriosas e seus autores:

Não me chames de senhor,que não sou tão velho assim, e, ao teu lado, meu amor, não sou senhor...nem de mim!

RODRIGUES CRESPO (Belo Horizonte/MG)
Eu amo a vida, querida, Só pelo bem – que há na vida, de se poder querer bem.

ANIS MURAD (Rio de Janeiro/RJ)3 lugar Eu sigo na minha rota, Causaram minha derrota minhas vitórias no amor.

COLBERT RANGEL COELHO (Rio de Janeiro)lugar Duvidas que numa trova eu encerre o nosso amor? Na hóstia tu tens a prova:

JESY BARBOSA (Campos/RJ O lago nunca se esquece

RAUL SERRANO (Rio de Janeiro)
Tens vazio o coração...
Não ter amor é pobreza

JESY BARBOSA (Campos)


Se toda gente soubesse como custa querer bem, quanta gente gostaria
OCTAVIO BABO FILHO (Rio de Janeiro)lugar Não te prendas mais à dor pois quem quer morrer de amor

WALTER WAENY (Santos/SP)

lugar
Toda a beleza da vida,
todo o encanto, dela vem
de a gente saber, querida,
que é toda a vida de alguém.

LEILA RIBEIRO FERREIRA (Belo Horizonte)


lugar
Busquei no amor, não se iludo,
a desventura que quis.
Nesta vida, amar é tudo, é mais do que ser feliz!

CLÉA MARINA (Rio de Janeiro)


A divulgação do concurso, assim como do evento como um todo, coube ao jornal O GLOBO, do Rio. A Viação Friburguense colocou um ônibus à disposição, para transporte da caravana de trovadores, a partir do Rio de Janeiro, como faz até hoje. Cada hotel concedeu uma quota de diárias, os restaurantes deram a sua contribuição, o comércio e a indústria (Nova Friburgo tem inúmeras indústrias de lingerie, cobiçada pelas mulheres) preparam brindes. As festas foram realizadas nos dias 13, 14 e 15 de maio da 1960, com a presença de autoridades e intelectuais, entre os quais o Prefeito cidade, Dr. Amâncio Azevedo, Antonio Olinto, do Jornal O GLOBO, o romancista JORGE AMADO, e tantos outros.

Assim, Nova Friburgo passou a ser conhecida como o “berço dos Jogos Florais no Brasil”, título dado pelo próprio Luiz Otávio. É preciso dizer, no entanto, que, em 1959, houve dois eventos semelhantes, que não reclamaram para si este título, sabe-se lá porque: o programa “TV Poesia”, da TV Rio, apresentado por J. G. de Araújo Jorge (semanalmente era escolhida um trova por um corpo de jurados e, na finalíssima, eleita a campeã, tal como havia no Programa Sílvio Santos lá pela década de 80, com a denominação de ‘a quadrinha da semana’), e a Revista “Vida Doméstica”, concurso do qual o próprio Luiz Otávio foi julgador. Provavelmente porque utilizaram-se apenas da denominação “Jogos Florais” quando, na verdade, tratavam-se apenas de concursos. Mais adiante veremos a diferença entre um e outro.


2. ESSÊNCIA

CONCURSOS DE TROVAS

Os Jogos Florais iniciam sempre por um ou mais Concursos de Trovas, condição tramada e bem conduzida por Luiz Otávio e J. G., já citada anteriormente; eles formam a base do evento. Sem concurso de trovas, não há Jogos Florais. Aliás, tenho para mim, que todo grande concurso em que se fazem festividades no seu final, na verdade, são Jogos Florais disfarçados de concursos (Exemplos: Concursos de Trovas de São Paulolo, Concurso de Trovas de Belém, Concursos de Trovas de Barra do Piraí). Pode-se, no entanto, acrescentar outros concursos (de crônicas, contos, sonetos, haicais, fotografias, poesia moderna, etc). Então, a entidade promotora ou realizadora do evento se reúne e começa a tratar do mesmo a partir de um ou mais concursos. Logo adiante vamos explicar o porque desse “ou mais concursos”. E a primeira providência que se toma é a formalização de um regulamento para o concurso, indicando aos concorrentes as diretrizes que devem seguir para participar do mesmo. São ditadas, então, as normas. Fornecemos, a seguir, um modelo de regulamento, que, é óbvio, pode ser alterado, segundo conveniências particulares de cada evento.


FESTIVIDADES:

As festividades dos Jogos Florais são, justamente, o diferencial entre os demais concursos poéticos e literários verdade, as festas de Jogos Florais é que forjaram a denominação de confraria dos trovadores brasileiros. Confraria esta que só existe entre os trovadores; não existe, por exemplo, entre os jogadores de futebol, os pilotos automobilísticos, os cantores, etc etc. E porque existe esta confraria? Porque as festividades de Jogos Florais são, antes de tudo, grandes encontros de fraternidade, de troca de idéias, de fortalecimento de amizades. Jamais de “igrejinhas”, como tentaram alardear. Em verdade, esses grandes e importantes encontros de trovadores que se realizam em todo o território nacional, tem propiciado o surgimento de novos trovadores e brilhantes e antológicas trovas. Não tenho dúvida nenhuma de que a convivência é sempre um estímulo para a criação. Nas festividades, às quais acorrem os vitoriosos, obrigatoriamente, na medida em que puderem, convidados, intelectuais, jornalistas, apoiadores e colaboradores são realizadas recepções, recitais, lançamentos de livros, missa em trovas, refeições típicas, sessão solene de entrega de prêmios, passeios históricos e turísticos, como veremos, especificamente, mais adiante.

Tornou-se quase obrigatória a edição de um livro ou livrete com as trovas vitoriosas, comissões, diretorias e os colaboradores ou patrocinadores, não importa a tiragem (quanto mais, melhor) que é sempre distribuído gratuitamente aos trovadores participantes e aos presentes às festas. É o registro escrito do evento, que deve ser remetido a bibliotecas, professores, autoridades e imprensa. O livro, assim como a estada e as refeições (quando possível, é claro), devem ser uma complementação da premiação aos vitoriosos.

ENTREGA DE PRÊMIOS:

A Sessão máxima das festividades dos Jogos Florais deve ser a solenidade de entrega de prêmios. Deve ser escolhido um local adequado, amplo, sendo que, antecipadamente, devem ser dispostos numa mesa especial os troféus, medalhas, diplomas, homenagens, brindes, etc, tudo na devida ordem para que não haja contratempos na hora da entrega.

A esta devem obrigatoriamente ser convidadas as autoridades do município, mesmo que não tenham colaborado em nada. Pode-se abrilhantar a solenidade com mini-palestra sobe a trova, apresentação musical, telão, uma refeição (almoço, jantar ou coquetel), danças, etc. O Hino Nacional, na abertura da sessão, lhe empresta um ar cívico e de seriedade. É quase que uma obrigação.

A sonorização do ato é também obrigatória, até para que se ouça com exatidão as trovas ditas pelos próprios autores que, às vezes, não são bons declamadores.

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